domingo, 18 de março de 2012

Os Adventistas e a Páscoa


Devemos participar das celebrações da Páscoa? Qual é a história da Páscoa e onde a celebração deste dia teve origem?
O nome “Páscoa” nunca aparece no Novo Testamento grego. É derivado de “Eostre” deusa da primavera na mitologia anglo-saxónica. Por volta do século VIII este nome passou a ser aplicado ao aniversário da ressurreição de Cristo. Com o passar do tempo a ligação com a deusa foi perdida, restando apenas o significado de ser associado com a ressurreição de Cristo. Perguntar onde e quando as práticas se originaram é apenas parcialmente válido, pois a maioria das nossas práticas na vida quotidiana têm antecedentes no mundo antigo, muitas vezes de não crentes. Ao longo dos séculos, os significados mudam. Até a hora de 60 minutos veio dos pagãos da Babilónia, e tais cálculos de tempo, desempenham um papel em nossos cultos hoje.

A Páscoa comemora a ressurreição de Jesus. Inquestionavelmente a ressurreição foi de enorme importância para a igreja apostólica, uma figura proeminente nas mensagens evangelísticas dos apóstolos como registado no livro de Atos. Nenhuma questão é feita sobre a data em que ocorreu, além da observação de forma factual que a ressurreição ocorreu no primeiro dia da semana. Não há nenhuma sugestão de que a ressurreição tornou um novo dia santo. Na Bíblia encontra-se registado apenas um dia sagrado na semana, o sábado, formado como parte do processo de criação por Deus (Gn. 2:1-3), e nunca suspenso. Por esse motivo nós observamos apenas o sábado como tempo sagrado ou santo.

É de notar que a igreja apostólica nunca deu atenção nem à data do nascimento de Cristo ou à data da sua ressurreição, para além de notar que a última ocorreu em um domingo. Nenhum destes dias foi observado pelos primeiros cristãos, e se o nosso modelo é o da igreja apostólica seremos guiados pelos relatos do Novo Testamento. Com efeito, no terceiro e quarto século um imenso debate surgiu entre as igrejas cristãs sobre como e quando a Páscoa, seria observada. Para o ramo católico romano isto foi amplamente resolvido no Concílio de Nicéia (325 dC). Na prática corrente a Páscoa cai sempre a um domingo e do domingo escolhido vagueia um período de quatro semanas, variando de 22 março – 25 abril.

O ramo oriental da cristandade adoptou um sistema diferente, de modo que na tradição Ortodoxa Oriental tanto o Natal como a Páscoa caem em datas diferentes das dos católicos do Ocidente e da tradição protestante. O ponto é que os primeiros cristãos não davam atenção a comemoração do dia da ressurreição de Cristo. Se tivessem, estariam a observar o dia 17 do mês judaico, Nisan, que começa com a primeira lua nova após o solstício de primavera. A Páscoa entre os judeus começa com o dia 14 de Nisan. Não seria possível, comemorar o dia do mês atual e tê-lo sempre no domingo, assim a escolha foi feita para tê-lo no domingo, adaptando o dia do mês para maior comodidade.

Perante esta informação, embora a ressurreição de Jesus seja um acontecimento histórico de enorme importância, não temos precedentes bíblicos para torná-lo um dia especial de celebração. Isso aconteceu em séculos posteriores da história cristã. Por esta razão, os adventistas do sétimo dia nunca deram partícula atenção à Páscoa. Atenção dada por outras igrejas. O nosso interesse é nos voltar para às práticas e fé da igreja cristã primitiva.

No entanto, vivemos em uma sociedade saturada de celebrações da Páscoa. Em grande medida, ela é dirigida, como acontece com o Natal, por uma oportunidade de vender produtos às pessoas se presentearem no dia. Nos EUA, roupas em particular, estão associados com a Páscoa, como os brinquedos com o Natal. E Portugal o costume são os ovos de páscoa e as amêndoas.

Em um esforço para transmitir a ideia de que os adventistas são crentes na ressurreição, alguns de nós introduziram observâncias da Páscoa. Estes tinham medo de virmos a ser mal interpretados, e para eles era importante que fôssemos vistos como ortodoxos e aceitáveis à sociedade que nos rodeia e se conformaram com os costumes em torno de nós. Na verdade, essa prática traz outro equívoco – a ideia de que damos um significado especial ao domingo, porque foi o dia da ressurreição. Algumas das nossas igrejas locais introduziram serviços na manhã do domingo de Páscoa, o que para muitos adventistas cria problemas. Reconhecemos que não estamos a tratar o domingo como tempo santo, mas o público muitas vezes não capta a subtil diferença.

É importante que nós incentivemos os líderes das nossas congregações a considerarem todos os fatores envolvidos, quando eles decidem o que fazer com a Páscoa. Várias coisas estão envolvidas e precisam ser consideradas antes de tomar decisões. Muitas vezes, as escolhas sobre questões como essa são feitas com pouca prudência. É necessário permitir que as Escrituras sejam nosso guia e pensarmos cuidadosamente sobre em que direção as nossas ações conduzirão a igreja.

Embora não exista nenhuma clara razão bíblica para observarmos a Páscoa como uma festa religiosa, em muitas partes do mundo, o público é tão orientado para a observância da Páscoa que é uma época do ano na qual eles se abrem para estudos especiais da Bíblia. Uma oportunidade se abre para chegar ao público com a mensagem completa de Cristo, muitas vezes com boa resposta. Sob tais circunstâncias, a Páscoa e seus eventos ao redor pode emprestar-se a trabalho evangelístico sem, contudo, atribuir um significado religioso especial para o próprio dia. Sempre que há oportunidade para o avanço da mensagem de Cristo sem comprometer a verdade bíblica, o conselho de Cristo “prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas” é apropriado.

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George W. Reid é aposentado e ex-diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica da Conferência Geral em Silver Spring, Maryland.

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