quarta-feira, 9 de maio de 2012

Movimento Leigo – Motivação Genuína


Motivação é o ímpeto que leva o ser humano ao movimento. [i] É aquela força interna que o faz fazer o que ele faz. [ii] É uma mescla entre razão e emoção que se concentram para alcançar algo.
Quem conhece os motivos do coração humano? Parece que numa quantidade considerável das vezes, nem nós mesmos sabemos o que nos move. (cf. Jr. 17:9)

As nossas escolhas são fortemente influenciadas pelo nosso sistema de valores e maneira como vemos o mundo – a nossa mundivisão. [iii] Aquilo que vamos elegendo como sendo mais importante, é o que mais vai nos motivar. Exemplo: se um jovem finalmente conseguiu comprar aquele carro dos sonhos, aquele que ele sempre quis, é bem provável que polir o carro, repará-lo, instalar os acessórios desejados, colocá-lo na conformação sonhada será a sua maior motivação. Essa é paixão do seu coração, e é ali que ele vai colocar todo o empenho, finanças e tempo – naquilo que em seu sistema de valores (emocional ou racional) ele elegeu como sendo mais importante. Se no momento em que ele estiver cuidando do seu carro alguém o convidar para ir à igreja, ele provavelmente vai preferir ficar cuidando do carro.

Sistema de valores baseado nas emoções X sistema de valores baseado em escolhas racionais
A maior parte da população faz escolhas construídas nos seus gostos pessoais ou nas emoções do momento. [iv] As consequências geralmente são catastróficas. No calor da paixão, no impulso movido pelos gostos pessoais, não se faz boas decisões – a motivação não foi analizada pela razão. Não houve tempo de se avaliar as consequências e o efeito que esta escolha terá sobre quem a faz ou sobre pessoas que serão afetadas por essa escolha.

Os valores construídos sobre emoções, são valores mais vacilantes e menos duradouros.[v]

Por outro lado, os valores construídos sobre convicções racionais que surgiram do estudo da Bíblia, fortalecidos pela oração e consolidados pelo estudo do Espírito de Profecia, são robustos e movimentam a vida fundamentados em princípios inspirados.[vi] Esse sistema de valores procedente da Palavra, fornece uma motivação individual consistente, duradoura.

Quando a pessoa está diante da escolha de se deixar motivar por apelos superficiais emocionais, ou ser fiel à uma convicção adquirida na Palavra ela já não titubeia mais. Ela sabe onde está a verdadeira motivação, a motivação mais consistente e que trará resultados mais equilibrados e duradouros.

Liberdade e motivação
O ambiente necessário para a motivação é a liberdade completa de escolha. As pessoas são diferentes e cada uma se motiva com aquilo que assentou no seu coração.

Impor motivos, manipular a mente ou a emoção de uma pessoa faz com que ela desconfie da genuinidade de sua motivação. Ela percebe que a motivação não nasceu naquele local sagrado dentro coração que ninguém tem o direito de tocar ou manipular.

Se eu forçar uma pessoa a fazer algo, apenas pelo fato de eu querer que essa pessoa faça o que eu quero, ela não o fará genuinamente. Não estará presente aquela alegria interior, aquela força motivadora emocional e/ou racional.

Líderes que entendem a natureza humana e precisam de cooperação de um grupo, gastam tempo preparando aquele grupo, explicando o que deve ser feito, por que deve ser feito e qual a parte que cada um deve exercer para alcançar o todo. O líder verdadeiro pede licença para abordar aquele território sagrado dentro do coração humano, onde cada um tem o direito de exercer o livre-arbítrio. Ele apela para a inteligência, para o bom senso das pessoas e para o sistema de valores compartilhado por aquele grupo.

Antes de agir, o grupo liderado precisa ter uma percepção de mundo comum compreendido e aceito por todos. Quando não existe um sistema de valores comuns e nem uma percepção de mundo semelhante, não vai haver motivação do grupo. A comunicação fica prejudicada por que os códigos utilizados não foram “ensaiados” na “iniciação” e consequentemente são comuns a todos – a linguagem não confere.

Quando esses elementos estão acertados, uma compreensão mais ampla da natureza humana surge dos estudos apresentados por Edward Deci, em seu livro “Por que Fazemos o que Fazemos”. Ele apresenta duas maneiras pelas quais o ser humano pode ser motivado: “de fora para dentro” ou “de dentro para fora”.

Motivação extrínseca [vii] (de fora para dentro)

É quando o elemento motivador está fora da atividade. O líder usa aditivos motivadores que não fazem parte diretamente daquilo que se quer fazer.

Aqui está se falando principalmente de elementos apresentados antes da atividade, do projeto em si começar.

Existem os estímulos externos positivos: as recompensas e os estímulos externos negativos: as ameaças. Promessas de recompensas ou ameaças são feitas que não têm nada a ver com o empreendimento em si.

Exemplo 1: um prémio é oferecido – uma bicicleta – para quem ler a Bíblia toda até o final do ano. O que será que uma bicicleta tem a ver com o fato da pessoa ler a Bíblia?

Exemplo 2: se você não ler a Bíblia você será colocado de castigo por uma semana. Será que essa ameaça vai fazer com que a pessoa leia a Bíblia?

É compreensão dos especialista que as pessoas são motivadas por recompensas ou ameaças. Como é o caminho mais curto, muitos líderes fazem uso desse expediente. Esses “motivadores extrínsecos” apelam geralmente para emoções superficiais ou para valores menos nobres e consequentemente têm duração limitada.

Experiências científicas mostram que no momento em que o estímulo externo é retirado – quer seja a recompensa ou a ameaça – a pessoa cessa a atividade.

A utilização excessiva desse tipo de motivação avilta o empenho e interesseiros surgem – pessoas que não estão interessados na atividade em si, mas na recompensa que terão ao fazê-la.

Quando se trabalha com voluntários, essa é a pior maneira de envolver as pessoas em uma atividade, projeto ou ministério. As pessoas ficam confusas e os motivosincertos. Há desconfiança dos motivos de quem solicita a participação e inevitavelmente, mesmo que subliminarmente, surge uma confusão nos motivos de quem deve participar.

Há estímulos externos à atividade, no entanto, que são genuínos:

- pequenos presentes de reconhecimento não anunciados previamente

- palavras de reconhecimento pela atividade já realizada

Esses estímulos, quando intencionados para serem genuínos, não podem ser anunciados, são expontâneos, não subornantes, ocorrem mediante a tarefa já realizada, e demonstram reconhecimento e apreciação pela dedicação à tarefa em si.

Motivação intrínseca[viii] (de dentro para fora)

É quando o elemento motivador está na própria atividade. O líder prepara e organiza a atividade de tal maneira que a atividade, projeto ou ministério seja interessante. Há diferentes grupos de pessoas e cada grupo de pessoas é motivado por razões diferentes.

Exemplo 1: Um grupo de pais quer fazer um parque de brinquedos para os filhos dentro do condomínio onde moram. O líder inteligente sabe que existem pais que participarão para a) terminar logo e ter o parque, outros para b) terem o prazer de fazer algo em grupo – apreciam o senso de comunidade, outros ainda participarão c) com uma parte do processo – não querem se envolver no projeto todo, mas em tarefas específicas e outros d) gostam de participar no planeamento, muito mais do que na execução. Muitas vezes não importa a atividade ou projeto, as pessoas querem se envolver da maneira como apreciam mais fazê-lo.

Exemplo 2: Se pessoas não estão mais lendo a Bíblia, e todos os estímulos extrínsecos não funcionam, pode ser que haja necessidade do grupo entender por que fazer aquilo, e envolvê-los em dinâmicas que fazem sentido para as diferentes pessoas. Há pessoas que querem ler a Bíblia, mas gostariam de fazê-lo em grupo para discutir – o senso de comunidade é o estímulo. Outras gostariam de fazê-lo se entendessem uma maneira de fazê-lo em tempo “X” – fator de estímulo é o tempo limitado para conseguir cumprir com a tarefa. Outras ainda prefeririam estudar a Bíblia com a finalidade de aprofundar-se, de esgotar o sentido mais profunda das Escrituras – motivação: qualidade e profundidade.

Como conseguir a motivação intrínseca?

Há três elementos que compõe a motivação intrínseca, quer dizer para fazer a atividade pela própria atividade. Os estudiosos descobriram quando pessoas tem um senso de respeito por sua autonomia, por sua criatividade individual e são levados a prestar contas[ix] dentro de um espírito de comunidade não de cobrança, as pessoas não apenas irão fazer aquilo que um líder determinar, mas terão a capacidade e a vontade de tomar iniciativas por si e achar soluções para problemas e situações que de outra maneira não surgiriam.

Organizar atividades que tenham a motivação embutida na própria atividade são a sabedoria da motivação.[x]Exemplo: Um grupo de pessoas que se relacionam bem, descobrem seus dons, estudam como podem utilizá-los de uma maneira que um complemente o outro, toma a iniciativa de servir a comunidade ao redor da igreja. Enquanto eles puderem desfrutar de sua autonomia de o que fazer (direito de fazer sem interferências externas), puderem usar a sua criatividade de como fazer e forem envolvidos no companheirismo da igreja prestando contas de suas atividades para a coletividade de crentes, eles irão estar motivados com a própria atividade.

Se ainda por cima, obtiverem reconhecimento equilibrado (reconhecimento que não roube da atividade o elemento motivador) e apoio da coletividade de crentes, o ministério, projeto ou atividade funcionará com crescente alegria e satisfação.

Elementos que geram confusão

Competição:

Competição não é motivadora, pois compara uma pessoa com a outra e transporta para fora da pessoa o elemento motivador. Não é mais a atividade que estimula, mas o fato de querer ser melhor que outra pessoa.

Quando vamos fazer algum tipo de comparação, devemos fazê-lo internamente, isto é, a pessoa consigo mesma.Exemplo: hoje você fez melhor do que ontem. Vamos melhorar ainda mais para amanhã?

Motivação e relacionamento:

Creio pessoalmente que estamos tentando, desesperadamente nos despedir de uma compreensão mecânica, uniformista do ser humano. Na no ser humano é uniforme, nada que o envolve é uniforme. Não existe nada igual! Não funcionamos como máquinas! Compreendendo que somos seres relacionais, cada um com a sua maneira de ser, cada um com a sua história, suas feridas e alegrias na vida, uma abordagem mais sábia será dada ao assunto motivação.

O maior estímulo interno pelo qual as pessoas fazem o que fazem, é o amor. Não fazemos as coisas tanto pelas próprias coisas, fazemos o que fazemos por alguém. Entender o aspecto relacional como elemento motivador é sabedoria a ser adquirida.

Esse alguém precisa conquistar o respeito, o amor daqueles que quer motivar e eles o farão por amor ao líder. Talvez seja esse o mais genuíno motivo de se fazer algo. O livre arbítrio e o exercício do amor são os dois maiores elementos de motivação.

Função ou Dom?

Para o trabalho assalariado uma função pode estimular a iniciativa e trazer motivação. No entanto é um estímulo externo à atividade e por conseguinte não trará motivação duradoura, pelo contrário, depois de conseguir aquela função, a pessoa vai galgar outros cargos. Especialistas descobriram que mesmo pessoas que recebem salário, são mais motivadas quando elas são colocadas em funções mais adequadas à sua vocação e quando é dado espaço para aautonomia, a criatividade pessoal e a prestação de contas em espírito comunitário (espírito de equipe).

Voluntários principalmente são estimulados ao comprometimento com projetos, atividades e/ou ministérios quando existe estímulos intrínsecos, como descrito acima.

Conclusão

Como líderes somos chamados a suplicar a Deus a capacidade de estudar a natureza humana a ponto de que saibamos o que de fato motiva, as atividades que trarão a motivação intrínseca, dando plena liberdade para que cada um faça aquilo que ela se sentir chamado e isso com ordem e decência.

Como fazer com que as atividades da igreja, contemplem a coletividade? Como levar uma coletividade a fazer uma tarefa, sendo que cada um tem um desejo diferente do outro? Que tipo de atividades desenvolver para que uma coletividade se sinta livremente envolvida e estimulada a fazer o que precisa ser feito?

Líderes são chamados a achar soluções para que a coletividade de uma igreja seja estimulada a levar a causa de Deus avante. Aqui algumas dicas que poderão contribuir na prática de descobrir dons e talentos nas pessoas, envolvê-las em ministérios, projetos e atividades, desenvolver comprometimento com o todo e trazer vigor e crescimento para a igreja.

- O diálogo construtivo é um elemento fundamental nesse assunto. Me preocupo quando uma igreja é absorvida com preconceitos, tradicionalismos vazios e formas fixas. Me preocupo com uma igreja que não conversa mais sobre os assuntos que a apertam. Me preocupo com uma igreja que por medo de ver o que não gostaria, evita tematizar aquilo que aflige a todos.

- Ministérios organizados conforme os dons dos membros[xi] é outra ferramenta poderosa para despertar motivação na igreja local. Quando cada discípulo de Cristo entende como Deus quer utilizar a sua vida, qual é o plano de Deus em sua vida, e pode – tem o direito – de usar a sua vida sob a direção do Espírito de Deus, uma alegria renovada surge.

- Uma visão clara para a igreja local une os membros, dá foco para os ministérios e atividades. Os ministérios segundo dons tendem a ser dispersos em suas atividades, isto é, cada um puxa numa direção e cuida de seu ministério. Uma visão clara, construída por meio do diálogo construtivo dentro da igreja, e um planejamento que auxilie a igreja a dar, passo a passo, cumprimento à visão, leva cada ministério a contribuir para um todo combinado (cf. Mt. 18:19).

- Quando existe um sistema de apoio, assalariados e voluntários são muito mais estimulados ao comprometimento com o todo, muito mais do que quando deixados a trabalhar de maneira solitária.
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[i] Rudolph, Udo. Motivatiospsychologie. Weinheim: Belz, 2003.

[ii] Deci, Edward. Por que Fazemos o que Fazemos. São Paulo: SP, 2002.

[iii] Bauer, Bruce. Spirituality. Anotações de Aula, UAP, 2011.

[iv] Reeve, J. Marshall. Motivação e Emoção. Rio de janeiro: RJ, 2006.

[v] Ibid.

[vi] Ver http://discipulado.numci.org e http://espiritualidade.numci.org.

[vii] Deci, Ibid.

[viii] Ibid.

[ix] Ibid.

[x] Heckhausen, Jutta & Heins. Motivation and Action. Cambridge University Press, 2008.

[xi] Ver http://discipulado.numci.org.br.

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